domingo, 30 de outubro de 2011

Carmelitana ontem e hoje! D. Raimunda, uma voz na comunidade!


Na segunda feira, dia 24/10, eu e Maurício fomos até ao Carmelitana no intuito de tirarmos fotos, tanto da comunidade quanto da escola, para produzirmos os slides para os seminários. Além disso, iríamos coletar algumas informações com a diretora Letícia de como se processa a relação escola-comunidade, lá.

Cheguei por volta das 15:00h, Davi mais Maurício e Laércio tinham acabado de dar aula para o 5º ano e iriam pegar mais uma turma, que se não me engano, era do Mais Educação. A aula transcorreu muito bem e pude colaborar um pouco nas atividades. Logo em seguida, iríamos começar a coletar as fotos. É bem verdade que estávamos receosos de sair tirando fotos pelas ruas, pois, primeiro, não sabíamos como seria a reação da comunidade caso visse dois homens desconhecidos tirando fotos da região, e para piorar, ainda era feriado dos comerciários e as ruas estavam todas muito desertas. Enfim, decidimos coletar algumas fotos internas, e no caso, tirar algumas fotos da fachada da escola, apenas. Entretanto, antes, optamos por conversar com a professora Letícia, pois todos estavam meio agoniados para terminar as atividades do dia, considerando que muitos imprevistos estavam acontecendo – normal. No meio tempo, enquanto aguardávamos a professora, coletamos algumas fotos bem interessantes. Após uma certa espera fomos simpaticamente atendidos, daí vieram as maiores surpresas do dia.

Carmelitana ontem e hoje

Expliquei a professora o porquê estávamos precisando daquelas informações, falei dos seminários e também das fotos que tínhamos tirado. Ela com um sorriso nos indagou em quê ela poderia nos ajudar. Fui logo ao ponto e perguntei: - Professora, como a comunidade vê hoje a escola Carmelitana do Menino Jesus? Ela nos respondeu que, hoje, a relação da comunidade com a escola está sendo boa, está sendo mais afetuosa, que existe um respeito recíproco, porém, ela disse que tudo já foi muito difícil e que isso está sendo uma conquista de tempo. Nesse ponto, ela nos falou que a escola se encontra em uma área de risco, entre a “maloca” e o “gueto” - palavras dela. Confesso fiquei um pouco confuso em entender qual era a diferença da maloca e do gueto, pois não vivi essa realidade. Ela nos explicou que a maloca é uma espécie de invasão, é mais ou menos como se fosse os excluídos dos excluídos. Que é o lugar onde é “barra pesada”. Onde as famílias são mais desestruturadas. E por aí vai. Logo me lembrei da maloca, a pequena invasão que fica em baixo do Viaduto dos Motoristas, ela ainda nos salientou que alguns alunos são de lá. Já o gueto é a comunidade em si, é a área mais interna do bairro, onde as minorias se concentraram e onde existe uma certa “legalidade”. Consegui então fazer distinção entre uma e outra. Esse diagnóstico da localidade serve de parâmetro para entendermos qual é o público que freqüenta a escola; alunos, famílias e funcionários – lembrando que não está sendo feito aqui nenhum juízo de valor. Ela ainda nos contou casos de vandalismo que aconteceram, mas que não podemos inferir como um reflexo de quem é a comunidade. Foram fatos isolados. Quando nos demos conta, já ia dar 17:00h e estávamos com pressa por causa do feriado. Decidimos parar por ali, pois já tínhamos consideráveis informações. Foi aí que veio a maior surpresa.

D. Raimunda

Quando estávamos já na rua ela nos sugeriu: - Por que vocês não passam na casa de D. Raimunda? Fiquei surpreso porque D. Raimunda é sempre muito ocupada e não achei que iríamos conseguir encontrá-la em casa, mas ela estava. Fomos muito bem atendidos, não podíamos perder a oportunidade de falar com uma representante legítima da comunidade e muito respeitada. A professora Letícia mais Davi seguiram para o ponto de ônibus, enquanto eu e Maurício fomos convidados a adentrar na residência. Ela nos atendeu com um sorriso estonteante, muito alegre e vaidosa, e já foi falando: -“Tô achando uma maravilha o trabalho de vocês!” Agradecemos e mais uma vez expliquei o motivo da nossa presença. Repeti a pergunta que fiz a Letícia e ela ratificou tudo. Ela falou que hoje a comunidade respeita a escola, gosta da Carmelitana, que os comentários que se tem ouvido é de que no próximo ano as mães irão matricular seus filhos lá. Ela elogiou muito a professora Letícia, disse que ela está fazendo um trabalho maravilhoso. Daí, perguntei qual era diferença que ela encontrava nas gestões passadas e dessa agora. Ela falou que antes a escola era fechada, que não existia um compromisso dos educadores com as crianças, que eles chegavam com seus carros e depois saíam sem ninguém ver. Nesse ponto ela começou a fazer uma retrospectiva da Escola Carmelitana do Menino Jesus. Ela disse que mais ou menos a 46 anos atrás, a Irmã Suzane, uma irmã da Ordem das Carmelitanas, construiu uma associação naquela região, onde hoje se encontra a outra escola Carmelitana. D. Raimunda nos disse que aquela região era só mangue, e devido à escassez de alimentos como: leite, óleo, fubá de milho, esta irmã trazia dos Estados Unidos e distribuía na comunidade. Esta associação com o passar do tempo se transformou numa escola, no entanto, a Irmã Suzane começou a fechar para um grupo, apenas aqueles que ela queria tinham acesso à escola. A Irmã meio que quis tomar conta daquela região, até o campo de futebol, segundo D. Raimunda, ela queria tomar para si. Não consegui entrar nos detalhes, como o porque da irmã fechar para um grupo, esse grupo será que tinha que ter relação com a Igreja? A história estava muito empolgante. Continuando, com isso a comunidade começou a se revoltar, e sendo assim, começou a construir uma outra escola do outro lado do campo. A que hoje se chama Carmelitana do Menino Jesus. D. Raimunda nos disse que as pessoas de parte com a irmã construíam a escola de dia e à noite a população, junto com a própria D. Raimunda derrubava, ressaltou ela que até hoje tem o nome na justiça por ato de vandalismo. Com muito esforço a escola foi erguida, e após um tempo entregue ao Estado. Depois disso, ela comentou que veio o período de recessão da ditadura militar, e a escola se isolou completamente da comunidade, até praticamente outro dia voltar a abrir as suas portas. Enfatizou também que este ano, com Letícia, a escola está diferente. Ela usou frases como: - “Agora é uma escola!”, algo que nos emocionou bastante foi quando ela falou: - “hoje, temos educadores comprometidos com os menos favorecidos!” Mesmo que seja uma centelha em meio à imensidão, já vale à pena quando se escuta algo como isso. Ela falou que a escola já foi ponto de drogas, prostituição, que não tinham vigilantes da comunidade, e que isso para ela favorecia aos casos de vandalismo. Lembrei que quando Letícia falou dos casos de vandalismo ela disse que o vigilante não era da área. Tudo foi meio que confirmado pelas palavras de D. Raimunda. Hoje, até a filha dela, de forma voluntária, dá aula de reforço na leitura e escrita às crianças da escola. Então, essas e outras medidas fazem a diferença. A comunidade quer e precisa se sentir parte integrante e ativa da escola. A escola precisa colocar a cara na rua, e também, trazer a comunidade para dentro dela. Projetos e propostas que incluam os saberes de fora com os de dentro constroem uma relação forte e confiante.

Saímos quase por volta das 18:30h, muito satisfeitos.

Ps:. Relato produzido por Tiago Monteiro e Maurício Freitas.

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