Bem, hoje foi um dia realmente atípico, não só na escola, mas em toda a região da Baixa do Fiscal. Pareceu-me que a região gozava de uma calmaria estranha: poucos carros na Avenida, poucas pessoas transitando pelas ruas, pouco barulho e por fim, um movimento quase inexistente no comércio da região.
Vinha pelo caminho, fazendo uma leitura muito agradável de várias prosas de Baudelaire, reunidas em uma coleção maravilhosa. Chegando à escola, guardei o livro e entrando cumprimentei a todos que encontrava pelo caminho. Professora Letícia, logo me avistou e em voz alta me saudou “Boa tarde, PIBID”, pois é assim que ela sempre me chama. Então ela perguntou se eu ficaria com o quarto ano, já que a Professora ainda não havia chegado, respondi que sim, já que era mesmo o horário deles. Então David apareceu e levamos a turma para a sala. Com todos acomodados, começamos a revisão da última aula, que tratou da introdução a leitura na pauta, utilizando a leitura relativa. Logo depois fizemos um exercício para avaliarmos como eles estavam: em relação a este assusto, notamos que alguns tinham facilidade e outros não, como não é muita surpresa. Algumas crianças ficaram sem a pauta, então David foi à secretaria para fazer cópias enquanto eu fiquei responsável pela turma. Poucas vezes pude ter o prazer de ser responsável pela turma sozinho. Depois do inglório de ter perdido a tonicidade da minha voz, admito que fiquei um pouco receoso, mas graças ao bom senso da turma do 4º ano, não tive problema algum, muito pelo contrário! Como sempre deixo em destaque em meus relatos, aquelas crianças formam uma turma excelente. É claro que é da compleição de toda criança ser peralta e agitada, mas nada que possa macular o andamento da aula até David voltar. Já que geralmente pegamos a turma inteira sem precisar dividi-la, nós ficamos com elas durante dois horários geminados, o que nos proporcionou um tempo maior para trabalharmos também leitura rítmica. Colocamos três seqüências rítmicas no quadro, contendo semínimas, mínimas, colcheias e semibreves. Marchando para marcar o pulso, as crianças foram executando as seqüências sem nenhum problema. E assim a aula terminou com bastante aproveitamento.
Enquanto esperava o outro horário, para começar a aula do 5° ano, fiquei observando as movimentações na escola, já que David havia ido a diretoria resolver problemas burocráticos. Notei então, um dos funcionários molhando as plantas e, como em um ato de bondade, a chuva na mesma hora desceu, oferecendo ajuda aquele homem que tinha tantas tarefas a cumprir. Foi engraçado e interessante. As crianças brincavam, corriam, conversavam e lanchavam, já que era hora do intervalo, aproveitei o tempo para voltar a me deleitar com o meu livro. Passado algum tempo a professora Paula, responsável pelo 5º ano, veio até mim, perguntando se eu iria lá, para pegar a turma, então disse a ela que David estava resolvendo uns problemas e ele tinha deixado uma lacuna em relação a aula da turma. Logo fomos perguntar, ela preferiu terminar uma atividade e depois liberaria a turma para a aula. Para nossa surpresa ela mandou a turma e veio junto, pois precisava exibir para eles alguns vídeos de samba de roda, já que ela pretende que a turma apresente uma roda de samba para a semana do folclore. Então depois de ter exibido os vídeos, os meninos e as meninas tiraram os sapatos e fizeram uma roda no tablado. Daí a aula foi só samba ... até a professora sambou. Então tempo da aula esgotou.
No caminho de ida para casa, David comentava que estava muito cansado, sentia muito sono, realmente ele deixava escapar no olhar a sensação de desgaste, o problema é que ele ainda iria ao CEEP para dar aulas durante a noite, então ele me fez uma pergunta. “Maurício, se fosse você em minha situação, você iria cumprir o seu dever, ou iria para casa?” Eu respondi, tentando corrompê-lo, que ira para casa, mas o caráter ilibado de David o impediu de cometer essa infração, então ele entrou no ônibus com os passos lentos de um trôpego, como se estivesse caminhando em direção ao cadafalso. Pobre David, fiquei pensando comigo.
Apesar de que estava lendo Baudelaire, tenho agora na mente o trecho de um soneto, mas é de um Brasileiro, então deixarei aqui.
Breve momento, após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço,
Inda o corpo sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce poesia.
Horas mortas,. Alberto Oliveira.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirVelho não humilha não...Sinto-me um iletrado perante o seu vocabulário, rsrs. Sou seu fã!
ResponderExcluirtrôpego;
cadafalso;
inglório;
compleição;
macular;
ilibado;
até soneto rolou!!! Você é um privilegiado.
Eu sei que é difícil, mas sua escrita fala por você!
Realmente sem comentários para o vocabulário de Mauricio. O Que nos resta é esperar pelo livro.
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