sábado, 23 de outubro de 2010

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO PARTICIPATIVA ESCOLA SANTA BARBARA 14 DE OUTUBRO DE 2010

Evento – Retorno do dia das crianças

Cheguei à escola Santa Barbara por volta das 08h30m, encontrando todos os educandos estavam sentados no “pátio” da escola. Pensei que tinha me adiantado no horário chegando a tempo de ver a oração diária, mas não era bem isso. Os educadores organizaram um evento de boas vindas para o dia das crianças que tinha começado no dia anterior. Cada sala de aula da escola oferecia uma opção diferente de entretenimento (sala de vídeo, pintura, desenho, “artes”, maquiagem, discoteca...). Confesso que a atitude e disposição dos educadores me deixou bastante emocionado. Muitas daquelas crianças provavelmente não receberam presentes ou “congratulações” no dia da criança e retornando a escola foram acolhidas com tanto carinho e boa vontade pelos educadores.
Fui designado para ser “DJ”: havia um repertório pré-definido, com músicas eletrônicas que o educador Maurício Dória deixou em stand by. Logo que os educandos foram chegando (separados por turma, uma de cada vez), pediram para ouvir outros estilos. O mais pedido, obviamente, foi o Pagode, mas também foram solicitados o Rap e o Arrocha, alem é claro dos “enlatados eletrônicos” americanos – Blacked Eyed Peas e Justin Bieber, tão em evidência na mídia atual.
“Trabalhando como DJ” tive uma oportunidade única de observar o comportamento dos educandos de forma mais descontraída, sem as amarras da sala de aula e pude mapear um pouco do psicológico dos grupos, além, é claro, do contexto musical evidenciado acima.
A maior parte das ações ocorridas dentro da “discoteca” foram reações comuns à faixa etária de cada grupo: dançaram abraçados em círculo, fizeram trenzinho...
Descrevo agora três reações que me chamaram a atenção:
• A primeira delas e a mais comum foi o aspecto da violência. A música nem precisava ser tão agitada que eles já “armavam” os punhos e saiam trocando socos entre si, na maioria das vezes era só uma simulação de luta, mas em alguns momentos ficou bem claro a intenção de acertar o colega. Essas ações foram coibidas com a interrupção do som sempre que surgia a intenção de começarem a “brincadeira”.
• A sexualidade também esteve presente nas letras e danças das músicas de Pagode, sendo mais acentuadas nas sessões do 5º ano devido a idade já mais avançada de alguns educandos. Algumas vezes foi necessário trocar de música para frear alguns impulsos mais acalorados.
• A última das reações foi a que mais me tocou. Durante a sessão de uma turma que não sei precisar exatamente, todos dançavam enquanto um educando deitou em um canto da sala e ficou olhando o teto com um olhar preocupado, totalmente alheio ao som e a algazarra que o rodeava. Tentei chamar a atenção dele mostrando-lhe o computador em que estava trabalhando e como era o meu trabalho de DJ. Por um tempo ele se interessou, porém outros educandos começaram a rodear o computador e logo ele se retirou retornando ao seu “canto”. O educador Maurício Dória já havia nos descrito o contexto de violência em que esse educando convive, com dois irmãos assassinados pela polícia e em um estado de extrema pobreza.
No mais fica o aspecto positivo de que com alguma boa vontade e ações simples a escola se torna um espaço acolhedor, onde é possível trabalhar outros conteúdos além dos curriculares.

2 comentários:

  1. Interessante relato, Ricardo!

    Queria entender alguns aspectos ...

    1) por que "retorno do dia das crianças"?
    Isso seria para dizer que foi o segundo dia de festa? ... só para que para mim o retorno me soa como uma volta à rotina e não a continuação de algo.
    Pode ser que esteja completamente equivocada, daí ... por favor, nos ajude a entender melhor.

    2)No final vc escreve "com alguma boa vontade"... entendo que vc quer dizer que com algum esforço dá para oferecer momentos lúdicos, descontraídos e significativos para as crianças, mas ao mesmo tempo suas palavras me dão a impressão de uma conotação um pouco filantrôpica, da qual não sou muito fã.
    Sei que vc concorda comigo quanto ao direito das crianças terem uma educação da melhor qualidade e ao dever do professor em ter este compromisso. Sabemos que nem sempre é assim, mas espero que para nós, nosso pequeno grupo, seja. Palavra de ordem ... compromisso!!!

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  2. Escrevi retorno, no sentido de que foram as aulas de retorno do feriado do dias das crianças (as aulas após ao feriado). Ou seja seria a volta a rotina mas não foi...
    Disse "boa vontande" talvez pensando nos tantos professores que não cumprem nem o seu dever, trabalham sempre de má vontade, enquanto esses educadores além de cumprirem o seu dever, ainda proporcionam momentos extras, onde a sala de aula se transforma em um espaço educativo múltíplo!
    Quanto ao compromisso do grupo, não posso falar por todos, mas meu compromisso vai além das instituições e cobranças de matérias ou programas. É um compromisso que eu tenho comigo, que me faz levantar da cama todo dia apesar de todas as dificuldades que encontro no meu caminho!

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