Nesta quarta, por influência do acaso ou não, a aula de música se transformou, literalmente, numa aula de bons modos, de respeito, de reconhecimento da autoridade dos professores e etc. O que a meu ver, tenha sido excelente para as crianças.
2º Ano.
Quando cheguei, às crianças estavam sentadas, todas meio cabisbaixas, enquanto Davi proferia um “senhor” sermão. Dizia ele que aquilo não era um comportamento adequado, que era muito feio o que eles tinham feito, e que dessa forma eles acabariam sendo mal vistos na escola, até como a pior turma. Percebi que a minha chegada aflorou um pouco os ânimos das crianças, só que logo Davi mostrou como é que se faz um professor de respeito. Quando elas se exaltaram para falar, como um pai em plena repreensão aos seus filhos, ele disse em tom firme que estava falando e que naquele momento não era para ninguém falar nada, apenas ouvir. Confesso que senti um tom nostálgico, daqueles antigos e escassos professores que tive também na minha infância, e que não me fizeram nenhum mal. Acabei ficando à parte com Vitor, esperando a repreensão acabar. Para que não fique parecendo que Davi é um professor severo, rude, a todo instante percebia a inflexão de ensinamentos, de orientação que ele dava para as crianças, em todo momento tentando trazer a consciência, ainda verde é verdade, de que um comportamento daquele não iria trazer nada de bom para elas. Traduzindo, senti-o como um pai, ensinando ao seu filho. Com o pouco de tempo que sobrou, ele repassou o Hino 2 de Julho, mas frisando apenas a parte do refrão, já que no caso, o 2º ano só irá cantar essa parte. Ele repassou as quatro frases do refrão, acompanhado do cd, enquanto as crianças iam repetindo. Deu para perceber que elas estão pegando aos poucos tanto a letra, quanto a melodia. Enfim, com o fim da aula, Davi veio conversar comigo a respeito do porque daquela bronca toda. Ele falou, que quando foi buscar a turma na sala, tinham umas três a quatro meninas em cima das mesas, dançando umas dessas músicas extremamente sensuais que tem hoje, até com os gestos obscenos que as mesmas pedem. E os meninos embaixo em frenesi com tudo aquilo. Foi como um flagra. A sala estava uma baderna, como se fosse um pandemônio. Motivo mais que plausível para uma correçãozinha básica.
3º Ano.
Após o recreio, foi a vez do 3º ano. Fiquei na sala de Artes com Vitor, esperando e arrumando a sala para a chegada da turma. Enquanto isso, Davi se dirigiu a sala do 3º ano, para buscar a turma. Começamos a perceber que ele estava demorando um pouco mais do que de costume para trazer as crianças. Foi ai que me deu a idéia de ir lá ver o que tinha acontecido, e veio a segunda bomba da tarde. Mais uma vez, Davi estava pagando geral, enquanto a professora da turma – que por sinal, é uma senhora já – estava escorada no canto, com o rosto um tanto vermelho, o ar ofegante, a voz rouca, e lembrando uma pessoa em princípio de infarto. De novo as palavras de mais cedo se repetiram. Davi os colocou em fila, e os trouxe para a sala de música. Chegando lá, após todos sentarem educadamente, começou o sermão parte dois. Dessa vez, fiquei logo sabendo do ocorrido. Eles estavam fazendo da sala um verdadeiro carnaval, enquanto a professora tentava contê-los. Era bolinha de papel, era gritaria, dançavam, pulavam, arrastavam as cadeiras e as mesas, mais parecia uma festa do que uma aula. E a pobre da professora sem poder fazer nada. Dessa vez Davi teve que ser mais enérgico ainda, já que tinham umas duas ou três crianças que afrontavam a autoridade dele. Houve momentos de grande tensão. Senti que eles ficaram um pouco coagidos com a presença de três professores em sala, já que cada um “tomava conta” de uma parte da sala. Após muito gastar de saliva de Davi, eles conseguiram acalmar os ânimos e quando já estavam todos mais tranqüilos, como que numa jogada de mestre, Davi desligou as luzes, e pediu que todos colocassem as cabeças na mesa e fechassem os olhos. O clima realmente ficou tranqüilo, a paz pairou no ambiente, e para fechar com chave de ouro, ele colocou A Oração do Pai Nosso cantado por crianças, de um cd infantil, no qual ele tem. Dava para ouvir algumas crianças sussurrando a oração, foi um momento muito bonito. Até encostei um pouco as janelas para que o ruído externo não interferisse tanto. Quando terminou a oração, ele pediu que todos levantassem calmamente as cabeças e abrissem os olhos. Silêncio absoluto dava até para ver alguns bocejos. Quando olhamos para o relógio já tinha ido o tempo da aula toda. Mas valeu muito a pena. Aquelas crianças naquele dia descobriram o valor de uma correção, o quanto é necessário respeitar as pessoas mais velhas, perceberam que existe momento para tudo. O momento de pular, brincar, dançar, mas também o momento de acalmar, de ouvir e principalmente o momento e o valor do silêncio.
Esse foi o dia da Carmelitana, nessa tarde.
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