A aula do 3º ano B começou com um carão de Maurício. O dia começou meio caótico com um engarrafamento fenomenal na região da escola e algumas burocracias da coordenação e logo em seguida entramos na sala que tava um fuzuê. Ele sempre deixa o que está escrito no quadro e pede para os meninos guardarem os cadernos.
Hoje ele foi trabalhar a música “Oito Anos” de novo. Dessa vez os meninos falaram logo as idades e apenas dois tinham oito anos (idade esperada para o 3º ano). Após a audição ele perguntou se a música era rápida e todos disseram que sim. Depois ele mandou desligar o ventilador e perguntou a diferença de barulho antes e depois. Perguntou o que era o barulho e a resposta quase que unânime foi “zuada” (essa Bahia é linda...). A resposta que ele esperava era “som”. Falou que tanto o barulho do ventilador quanto a voz dele ou o ruído que saía da caixa amplificada era som e em seguida voltou com a música.
A abordagem foi como das outras vezes. Perguntou a instrumentação, qual começava tocando e qual fazia a melodia da introdução. Perguntou quais eram os instrumentos de percussão, sempre parando para dar bronca nos que não estavam prestando atenção – que eram alguns, inclusive.
De novo os meninos não conseguiam reconhecer as palavras. Depois de escrever no quadro a letra todos compreenderam e fizeram cara de “é mesmo”. A frase da música “O que significa impávido colosso?” virou “o que significa parte do colosso?”. Claro que os meninos não reconheceram a palavra “impávido” mesmo depois de escrita no quadro, mas quando Maurício cantou o trecho do Hino Nacional os meninos lembraram – pelo menos da melodia do Hino, porque eu duvido mesmo que a maior parte das pessoas cante o Hino Nacional com a letra correta.
Cada frase era um desafio para eles, mas sei que a acústica da sala e a qualidade da caixa ajudaram para a confusão. Sobravam freqüências médias graves e graves. O problema é que quando Maurício colocava a letra todos “passavam a escutar” o que a cantora dizia, portanto a acústica poderia ser até um fator, mas não acho que seja preponderante. Acho mesmo que eles têm um acerta dificuldade em escutar – de forma generalizada mas, claro, com algumas exceções.
No final os meninos voltaram a ficar um pouco inquietos. A parte com melhor rendimento na aula foi na primeira frase “porque você é Flamengo e meu pai Botafogo?”. Quando eles escutaram de novo e reconheceram ficaram bem animados.
A aula no 3º ano C começou bem mais tranqüila que a anterior. Maurício foi direto pro conceito de som. Perguntou se eles entendiam o som do ventilador, perguntou o que eles iriam achar se o ventilador estivesse fazendo “clec, clec, clec” e por aí vai. Fez uma analogia com o som de um carro vindo de trás e como eles subiriam no passeio ao escutar esse som, etc.
Tocou de novo a música “oito anos” e as respostas saíram bem mais facilmente. O entendimento das palavras da música também foi bem melhor. O engraçado é que eles reconheceram “flamengo e meu pai é botafogo” e não entenderam o “porque” do início. Depois de algumas repetições eles pegaram o “o que significa”, mas o “impávido colosso não saiu de jeito nenhum, porém todos reconhecem quando o Hino é cantado. Eu realmente estou começando a ficar interessado nessa questão, mas será que com uma acústica melhor eles não reconheceriam as palavras? Outro fato importante de ser notado é a pouca memória auditiva. Quase todos falam a última palavra da frase, mas poucos lembram das primeiras.
A aula do 4º ano A começou com um pedido de Maurício para a turma se aquietar. Claro que isso já foi uma prevenção depois do aviso da professora que os meninos estavam virados na... nas idéias.
Maurício começou tocando “Bolacha de Água e Sal”. Quase todos cantaram a música toda – a primeira parte principalmente. É impressionante como todos gritam. Imagino que não seja só por Salvador... A turma realmente estava mais agitada e Maurício já estava ficando rouco. Após uns cinco minutos de nada – na verdade de muito desgaste, aumento do barulho, etc – Maurício começou a explicar uma nova atividade: cada fileira teria que reproduzir um som (estalo de dedo, palma, tapa na perna, pisão no chão ou estalo de língua) seguindo uma seqüência que foi escrita no quadro.
Após terminar o desenho Maurício foi ligar o som. Foi o suficiente para o caos ser instalado. Não se pode parar nem por dois minutos. Enquanto Maurício pedia para eles fazerem os sons isolados eles saiam desconexos e sem vontade, porém quando colocou a música eles ficaram mais motivados. Claro que ele iria colocar depois de qualquer forma, mas a turma estava muito agitada e cada tentativa sem o som acompanhando era um desgaste porque sempre acontecia alguma coisa, mas mesmo assim a atividade foi funcionando.
Conversei rapidamente com Maurício no início da aula do 5º ano A sobre os problemas da aula anterior e ele sempre tem uma ótica mais otimista do que se vê por ai (inclusive, por vezes, a minha). O grau de cansaço dos professores vai aumentando gradativamente à medida que os minutos vão passando.
Passaram-se alguns minutos para a atividade realmente começar. Os textos foram passados e depois Maurício falou sobre a dinâmica dos impostos e uma folha que foi rasgada em outra aula. Como são mais velhos, a letra foi sendo interpretada e a fome de conhecimento foi sendo desvendada. Acho impressionante a capacidade de abstração que é necessária para agüentar tudo. É uma energia incrivelmente alta que vai embora todo turno.
Como esperado, o final da aula foi só bronca. Quando as outras turmas foram liberadas os meninos só pensavam em sair.
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