quarta-feira, 7 de março de 2012

"Lar doce...Escola" (?)

Esta foi a principal reflexão que fiz ao visitar a Escola Carmelitana esta semana. Após o acolhimento (Oração de agradecimento e entoação do hino nacional antes de iniciar as aulas), o professor Davi levou duas turmas com seus respectivos professores, para a mais nova sala de vídeo e biblioteca e, em forma de slides, mostrou para os meninos uma retrospectiva das atividades e conquistas da escola em 2011, além de falar sobre as novas perspectivas para 2012, repetiu para os alunos algumas das regras básicas não só de educação, mas também de higiene pessoal, inclusive avisando as meninas ( e nem mesmo as professoras escaparam! ) que elas não devem usar maquiagem, bem como as regras para o uso do fardamento.Ele comentou conosco, que era muito comum ver as crianças sem tomar banho direito a ponto de deixar marcas no corpo (“lodo”), bem como caso de piolho, etc.Fiquei pensante...

Após a apresentação, o professor comentou comigo e com meu companheiro, Pedro, sobre casos de crianças que tinham comportamentos estranhos (muitas vezes agressivos) na escola e, ao sondar qual seria o motivo, sempre acabava descobrindo problemas pessoais graves, muitas vezes relacionados à própria família. Aproveitei o ensejo e fiz a tal pergunta que não quer calar (coloquei no presente de propósito): “A escola é ou não é a segunda casa do aluno?”. O professor Davi me respondeu com outra pergunta: “E não era pra ser?”

Ora, a nossa casa é o lugar onde nós ficamos “à vontade”, onde mostrarmos para todos a nossa verdadeira face, onde manifestamos com mais clareza as nossas qualidades e defeitos e, como conseqüência, recebemos um acolhimento e repressão muito maior do que se estivéssemos “na rua”. A nossa vovó sempre dizia, “A mãe olha aonde bate, mas a polícia, não” (poupemos nossa velhinha das considerações sobre a atual “lei da palmada”). Sendo assim, na “primeira casa”, recebemos a tradicional “educação doméstica” que engloba higiene, etiqueta, religiosidade, etc. Lugar de aprendizado primário.

Já a nossa escola, como “segunda casa”, cuidaria de ministrar o conhecimento, promover o entendimento e racionalização do meio social e desenvolvimento de habilidades específicas para a futura inserção ao mercado de trabalho.

A pergunta-resposta do professor Davi, então, traz para nós uma reflexão de como nós estamos carentes de um lar. Pode parecer meio “piegas” dizer isso, mas ,como ele mesmo me disse, “o governo vive a falar em desenvolvimento, investimento e carência de educação, mas uma educação apenas ligada ao conhecimento”, ou seja, à segunda casa; todavia, como terei uma casa de veraneio se estou “sem teto”? Como ter conhecimento sem esse tratamento primário que é a base para nos desenvolvermos, seja como intelectuais ou profissionais? Nós estamos muito mais carentes de uma família (um lar), essa conversa de educação é para aqueles que têm uma vida privilegiada, não para os meninos da carmelitana, que tiveram que contar com os próprios professores para fazerem o almoço, pois não havia cozinheira para realizar o serviço nesta segunda feira.

“Vamos orar agradecendo o nosso alimento, pois existem pessoas que não tem nem isso para comer” Diz Davi para os alunos para conscientizá-los desde cedo para a sua realidade.

Vamos alimentar as nossas crianças, os nossos estudantes e todos aqueles que toparam comprar uma briga por um ensino de qualidade através das ações de nosso grupo; mas vamos, principalmente, em nosso dia a dia, alimentar a esperança das pessoas de (re) construírem a primeira casa das próximas gerações, caso contrário, teremos cada vez mais bacharéis, médicos, advogados e professores insensíveis por que não tiveram (e nem têm) um teto (lar) decente para morar.

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