Quando conversamos com um leigo sobre aula de música, tocar um instrumento, cantar ou coisa semelhante; são frequentes aqueles comentários como: “eu até gosto muito de música, mas não levo jeito”, “Já tentei fazer aula e foi um desastre!”, “Não tenho voz para cantar” (aí eu respondo” e como é que você está falando comigo?!). Fico imaginando quantos cantores, compositores, instrumentistas, etc. perdemos só nessa brincadeira de “não levo jeito”.
Quando fui para a escola Carmelitana esta semana, o professor Davi estava querendo ensinar sobre leitura de figuras de ritmo e também a solfejarem as notas e intervalos; aposto que, se o leitor não conhece música, deve estar aí sem entender nada, mas vai até mesmo aprender também, quando eu disser que ele explicou para a turma que a palavra parabéns tem, em cada sílaba, uma figura musical que determina sua duração tipo ti- ti-ta (“ta” dura um pouco mais) bem visível quando cantamos “parabéns (ti- ti –ta) pra você”. E para poder entender como é que canta (solfeja) as notas “Do”, “Ré” e “Mi”, ele rimou com as palavras pó, caiapó (Do), café (ré), dentro de uma música. Assim, para cantar a nota certa, é só lembrar a música. Para entender a distancia que existe entre Do Ré e Mi (intervalos) ele cantava a música e, na hora em que essas notas eram tocadas, ele colocava as mãos no joelho (DO), na cintura (Ré) e no peito (Mi); com isso percebemos a relação de altura entre elas (quem vem depois de quem) e tinha vezes que ele trocava a ordem.
No final de uma das aulas que Davi deu fiquei surpresa quando vários alunos pediram a música.
Eu sou fulano
Bom dia fulano
Que bom estar aqui
Gosto muito de você
Sendo que muitos deles nem mesmo cantaram a música direito na aula passada. (Fiquei tão feliz, e sem graça, quando um aluno, já na fila para sair, pediu para eu cantar novamente dizendo que minha voz era bonita) .No final da aula conversando com meu colega, Pedro, ele me esclareceu bem mais sobre isso. “Você pode até achar ridículo, mas eles curtem muito fazer isso”! Vai ficar dando aula de L.E.M. pra eles é? * Para esse público é necessário esse recurso e ele funciona muito bem!
No relato que intitulei “Conceitos e preconceitos” eu falei da minha resistência ás brincadeiras infantis (vocês precisam me ver lá dançando e cantando todas elas na escola... uma gracinha!), mas vejo o quanto ela é necessária para não perdermos ainda mais músicos para esse mundo de visão unilateral, afinal, se só existisse o mesmo método para todo mundo, o aprendizado seria interessante para uns e chatos para outros; essa versatilidade (na medida certa) é importante e muito saudável para o professor e, principalmente, para a nossa futura geração de músicos não vagar sem rumo pelo mundo, por não ter se encontrado na escola.
No final de todas as aulas o professor Davi me deu um feedback sobre o relato que publiquei na semana passada “Quem é da área de música entendeu o que você quis dizer mas acredito que os leigos, não. Essas publicações são importantes muito mais para a sociedade, para que ela saiba como ocorre a educação musical na escola e os resultados disso para os alunos”.Realmente, não teve como não pensar em fazer um relato na medida certa para você, leitor, seja você um estudante de música, de educação, das escolas estudadas ou até mesmo mais um dos milhares de internautas curiosos.
* L.E.M é a abreviatura de Literatura e Estruturação Musical; disciplina teórica ministrada lá na faculdade, por sinal, se você não gosta de matemática, pode- se dizer que ela é muito chata!
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