Logo ao chegar percebemos algo diferente. Primeiro tivemos dificuldade de encontrar Maurício e sentimos a escola mais silenciosa e vazia. Ficamos no pátio principal esperando até que Maurício aparecesse, não demorou muito e ele surgiu nos corredores da escola. Aí, ficamos sabendo que naquele dia haveria reunião dos pais com todas as turmas e por isso a movimentação estava um pouco diferente. Ele estava indo de sala em sala se apresentar para os pais e falar um pouco das aulas de música enquanto as professoras generalistas administravam o restante da reunião com suas turmas respectivas. Nesse instante ele se dirigia para a sala do 2° ano e, obviamente, fomos convidados a comparecer na sala também. Nessa turma, como de surpresa, muitos pais compareceram para a reunião. Todos estavam com uma bola de soprar, amarela, cheia, nas mãos, e haviam escrito algo nelas que não consegui identificar. Maurício iniciou se apresentando para os pais e nos apresentando também como participante do PIBID e professores de música que estarão em breve saindo da universidade. Ele falou um pouco do trabalho, do que é feito na aula de música, o que se pretende fazer neste ano e tudo de positivo que se conquista através do trabalho musical. Logo após, ele se retirou da sala mas sugeriu que ficássemos para assistir ao restante da reunião. Nesse momento tivemos as maiores surpresas. A professora generalista, após uma breve elucubração sobre educação abriu uma rodada para que os pais pudessem se apresentar, falar um pouco dos seus filhos e desejar algo de positivo para eles e para a escola. Muitos foram bastante sinceros em dizer que seus filhos são peraltas e que poderiam estudar mais. Muitos também elogiaram a conduta dos filhos que estudam e fazem questão de ir pra escola porque gostam. Mas uma mãe me chamou muita a atenção quando no seu relato disse que colocou sua filha no Santa Bárbara porque na escola que a filha estudava antes, um aluno furou o olho do colega com um lápis. Isso me fez pensar muito. O tamanho dos problemas vivenciados pelas escolas, na luta dos professores, no estado em que nossa sociedade se encontra, e no meu papel como educador, em como contribuir para melhorar esse quadro, nem que seja um pouquinho. Enfim. Ainda, pra terminar de forma mais inquietante, a coordenadora pedagógica apareceu na sala para se apresentar e falar um pouco sobre o trabalho da escola. Ela iniciou dizendo quem era, qual era o seu papel e falando que os pais poderiam procurá-la quando houvesse qualquer problema. Mas em um momento ela começou a pontuar as dificuldades de aprendizado dos alunos e a falar da responsabilidade dos pais nesse processo. Até ai concordo. Porém, ela começou a comparar a escola particular com a pública, dizendo que na escola particular os pais estão mais presentes, ficam em cima dos filhos e por isso as coisas funcionam. Como se os pais tivessem que tomar isso como referência. Não concordei, considerando que a realidade da escola particular é diferente da escola pública, o modelo escolar lá funciona, não necessariamente porque os pais cobram dos seus filhos, mas porque, este modelo que aí está foi concebido para a elite. No ensino público a dinâmica é outra, as demandas são outras. Ainda de forma surpreendente houve um comentário assim: "As crianças aprendem a cantar, aprendem a dançar, então vamos investir na aprendizagem de fato", e apontou para um caderno em cima da carteira. Pensei. Então quer dizer que cantar não é aprendizagem de fato? Dançar também não? Mas logo me conformei e entendi que ainda o que se tem por aprendizado é a assimilação de conteúdo. Vivemos ainda uma escola conteudista, infelizmente. Perdoei-a.
Logo após a coordenadora se retirar da sala, a professora fez mais uma breve fala e encerrou a reunião. Nesse momento procuramos Maurício, e ele estava encerrando mais uma apresentação em outra sala. Após ele terminar fomos para a sala dos professores conversar um pouco. Ele nos mostrou algumas idéias de propostas para esse ano. Como um trabalho de junção da matemática com a música, por sinal muito interessante. Uns 15 minutos depois começou outra reunião na mesma sala agora com todos os professores e a diretora. A pauta era a respeito de um kit de jogos de raciocínio ganho pela escola, onde todas as turmas, exceto a do grupo 5, irão receber. Nesse projeto o aluno ganha um kit, o professor outro, e mais um fica nas dependências da escola. A diretora explicou todos os pontos do projeto, e após isso fomos liberados.
Saí de lá por volta das 11:00h.
Gostaria de entender porque que a dinâmica da escola pública é diferente da particular.A proposta não á ensinar mesmo? Lógico que o ensino é muito melhor e o motivo de nossa busca incansável é para ajudar a tornar o ensino público cada vez mais digno de nosso povo ("e de mim!")mas nas escolas particulares também temos problemas relacionados a comportamento, à participação dos pais nas reuniões e, consequentemente na vida dos alunos, bem como casos de violência (eu também estudei em várias).
ResponderExcluirSerá que a nossa mamãe em questão estava errada a ponto de merecer implicitamente o "seu" (nossso)"Perdão"? Afinal, ainda que cantar e dançar também seja um aprendizado, muito conteúdo deixa de ser passado para as nossas crianças por negligência.
Acho que já te expliquei hoje a tarde, mas cabe aqui salientar. Tome cuidado ao ler os textos para não interpretar errado. Quando falei que estava perdoando, tratei da coordenadora que estava falando de conteúdo e fazendo a esdrúxula comparação da escola pública com a particular - como parece que você está fazendo também. Não discordo do conteúdo, discordo dos objetivos. Outra coisa, a proposta da escola não é só ensinar (instrução), informação a internet a televisão dá. Mas teremos mais tempo pra discutir essas questões sobre a educação tête-a-tête. Beleza?!
ResponderExcluirA educação pública, como seu próprio nome diz é, teoricamente, PARA TODOS, sejam os alunos ricos ou pobres.Portanto, não tem porque existir diferença na forma de ministrar essa educação;como infelizmente hoje existe, concordo com a ideia de que ela é incompleta por ser "conteudista", mas discordo de que ela deve ser ministrada diferente da particular e não devemos ter este tipo de escola como modelo.Na escola particular não ocorre nem metade da negligência da escola pública e os alunos da rede particular também tem as sua carências; como eu havia dito anteriormente, existem da problemas com drogas, violência etc. na escola particular mesmo que em proporções menores. Acredito que nossa luta é por um ensino digno, tanto para o rico quanto para o pobre.E como o ensino público é um direito de todos, pelo menos este tem que ser digno, cumprindo fielmente o seu papel.
ResponderExcluirTem que haver diferença sim. As necessidades de um pobre, faminto, são diferentes de um rico de barriga cheia. Não falei meramente numa ministração de aula diferente, mas num conceito educacional diferente. Não estou aqui propondo discriminação alguma, mas não posso enxergar igualdade de oportunidades num modelo educacional que promete algo e não cumpre a não ser que você pague e muito para quem sabe conseguir algo. É injusto. Quando um jovem sai da escola pública suas perspectivas são diminutas em comparação a um jovem que estudou sua vida toda em uma escola particular. Isso é fato, e estamos tentando equilibrar essa balança, mas isso só será possível com uma educação diferente com uma escola diferente.
ResponderExcluirNão entandi... que diferença seria essa? A escola tem um papel importante na formação do indivíduo e deve sim, fazer com que aquele mais carente possa mudar o seu destino, mas ela não pode cumprir esse papel sozinha.
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