terça-feira, 10 de abril de 2012

Ressaca da semana santa: Frios e cobertores... (Por favor!)

Este relato desta vez não será muito feliz. Nem pretendo com ele abordar nenhum tema diretamente, mas quero que você, leitor, sinta o que eu senti ao visitar a escola Carmelitana ontem, e se por um acaso você defina o que é isso, comente mesmo! Eu não tenho palavras para expressar a minha impotência diante daquilo tudo!

Crianças carentes, professores despreparados para lidar com tantas necessidades (tentando dar o melhor de si), pais relapsos...

Dizem que Deus dá o frio conforme o cobertor, mas pra mim os cobertores não estão aquecendo e as pernas ainda estão de fora sentindo frio.

Cheguei no momento do hino nacional.Ao chegar perto de Davi ele me pediu que retornasse para dar Boa tarde à Diretora.Achei um pouco estranho, na escola tem tanta gente, que descuido... Mas assim o fiz.

-Você é uma professora (Que honra!)

Aos poucos estou procurando entrar no ritmo do professor Davi, minha referência na Escola Carmelitana. Fiquei tentando ver o que podia fazer para ajudá-lo e com isso aprender com ele e, por isso eu estava no teclado tentando aprender a acompanhar a música “Perereca no verão”. Nesse momento os alunos entraram na sala desordenadamente (O professor estava do lado de fora chamando o restante).

Quando o professor viu a desordem falou para eles que estava decepcionado com aquele comportamento, pois a turma deles é que tinha sido escolhida para começar mais cedo a musicalização com flauta doce. (A escolha usou a disciplina e a facilidade de assimilar os assuntos das aulas de cada aluno).Logo depois pediu para que eles voltassem para a porta e entrassem comportados.

Vale também lembrar que esse mesmo critério é aplicado para selecionar os alunos que participam do programa “Mais educação”.

Depois do hino as professoras se queixavam como os alunos estavam “imundos em plena segunda feira!” Os meninos estavam muito agitados, vi vários casos de queixas. O que eu achei um pouco sem sentido foi às professoras irem registrar a “ocorrência” na sala de música. Os “acusados” ficavam, de pé assistindo as outras turmas receberem aula de música com onde professor Davi. Na saída eles iriam ter a “audiência” com os pais.

Teve um momento em que a diretora foi à sala para dar bronca neles, inclusive um que ameaçou o meu colega, Pedro (vocês não vão querer saber de quê, não é?).

- E você? O que fez

-Nada! Responde um deles.

-Ah! Você é um Santo!

Senti o clima muito pesado e até Davi disse não ter tido tempo para nada (Nem para escovar os dentes!). Na hora do intervalo fiquei chocada quando ele me disse que um aluno havia praticamente desmaiado de fome e de sujeira, e uma das funcionárias da escola o levou para dar banho (isso mesmo, DAR BANHO) e que esse caso não é novo na escola.

Já falei aqui sobre o total desvio de função que ocorre no ensino (Vide “Lar doce...Escola?”) e fiz comentários em um dos relatos que tem aqui sobre a diferença entre educação pública e a privada (que discussão acirrada!). Mas não consigo realmente concordar com esse desvio de função, (Não tenho outro nome pra dar, espero que respeitem meu ponto de vista) embora não tenha jeito a não ser acolher e ajudar, nas academias só somos preparados para ministrar o conteúdo, o resto é improviso ou boa nova do PIBID.

Então? Vamos fabricar Cobertores (Por favor!), pois esses já não satisfazem o gélido frio que paira sobre o cinza panorama que se vê lá do viaduto dos motoristas.É a cor do mundo em que vive nossos alunos do carmelitana e a futura geração de nosso país.

12 comentários:

  1. Paola não acho desvio de função. Isso é o NEO Professor, professor que acolhe e vai além de dar aula. O que vamos fazer, fechar os olhos? Professor, professa, educador, educa, pense nisso. Mas enfim, como você mesmo disse: - isso já foi uma discussão acirrada -, e não quero aqui colocar nenhuma lenha na fogueira mais...chega! Agora só um adendo. O aluno ao qual Davi citou, que passou mal pela manhã provavelmente por fome, era da minha turma do estágio. Ele começou a empalidecer e suar frio. E ai, faço o que? Continuo ministrando a minha aula, o meu conteúdo?!?! Essa é a nossa realidade, e é com isso que iremos nos deparar se pretendemos ensinar na rede pública de ensino, e nesse aspecto o PIBID não traz nenhuma boa nova, pelo contrário, nos coloca diante de uma velha e amarga notícia da nossa realidade social.

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  2. Não acho que devemos fechar os olhos.Tudo bem! é claro que vamos usar o bom senso, Tiago, mas o professor não pode ser o Messias que vai salvar o mundo.Embora a sua contribuição seja de grande peso para a melhora da sociedade, acho que muitos dos problemas de nossos alunos do Carmelitana são de responsabilidade do estado, da igreja, das famílias e que a escola não pode dar esse suporte sozinha...
    O PIBID vem sim com boas novas, afinal você vai aprender isso com Willems? Dalcroze? ou Orff? Só com essa experiência que ganhamos com o PIBID podemos nos polir ainda dentro da universidade.Caso contrário nos depararíamos com essa realidade sem qualquer tipo de apoio ou proteção, além da riquíssima experiência que nos é transmitida pelos nossos supervisores.

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  3. Ninguém falou em MEssias, ninguém vai salvar o mundo, mas daí cruzar os nossos braços, onde é de nossa competência, não! É uma afronta um desvio de função, não tá afim disso, faça outra coisa. Na escola - onde nós estamos tratando - o professor é quem pode semear um semente, que quem sabe, lá na frente brote um ramo de esperança. Não mudaremos o mundo sozinhos, mas por causa disso ficarmos parados é se contentar com a realidade.

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  4. Eu acho que o principal objetivo desse blog é relatar as atividades musicais que acontecem em sala e trazer discussões válidas para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas.

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  5. Não acho que o principal motivo do blog seja, apenas, relatar atividades, isso é muito simples. E acredito que as discussões aqui estão sendo válidas, afinal estamos falando sobre educação, sala de aula, professor. Não é tudo que precisamos, não é coerente com o tema do blog?

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  6. Quero agradecer a todos que comentaram sobre esta postagem, dentro do blog, pessoalmente ou com os colegas, etc. mesmo que não concordem comigo ou até tenham ficado chateados com o que publiquei, mas acredito que através dele todos de alguma forma colocaram em prática a capacidade de opinar e defender suas convicções sejam elas acadêmicas ou pessoais.Isso mostrar o quanto podemos nos distinguir pela nossa personalidade.Nós brasileiros sofremos com a cultura da acomodação e bom é que tenhamos a oportunidade de sair da zona de conforto opinando, apoiando ou discordando mas, sobretudo, defendendo nosso ponto de vista.Como diria o velho ditado:"fale bem, fale mal mas fale de mim."

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  7. Ah, sim! não posso esuqecer de dizer que tendo a postura de comentar, concordando ou não exercitaremos também a nossa cidadania e desta forma influenciar nossos alunos, a futura geração de nosso país! Muito Obrigada!

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    1. Então pessoal. Leio esta postagem cheio de considerações, tais quais não farei todas.
      Sendo eu protótipo e ao mesmo tempo educador por eminência e participante do PIBID, mesmo que do lado de fora, resolvi intervir com meu pensamento.
      Primeiro, creio que existe uma grande distância entre ser professor e educador, temos sim responsabilidades com os educandos que entram na sala de aula, na escola. A dinâmica dos pós modernidade engoliu a formação clássica de família, mas mesmo assim ainda são famílias, de um modo diferente, mas são e carecem de educação também. A responsabilidade do futuro do país é de todos nós, professores, estudantes, família, estado e até mesmo a igreja, mas não é uma responsabilidade isolada a cada entidade, o processo de cuidar acontece concomitante à todas as posições de quem é responsável pela educação. Não são estanques e sim uma cooperação mútua.
      Não somos messias e nem trazemos apenas novidades, recebemos a velha novidade, a vida cruel na escola.
      A escola, meu povo, tem o papel de educar socialmente, não só intelectualmente, a escola também prepara cidadão para o mundo, assim como já dizia Durkheim.
      Também creio que respeitar a ideia dos quatro pilares da educação de Jacques Delors é uma boa ideia, aprender a aprender é muito importante.
      Sejamos reesposáveis pela nossa profissão. Não é uma maravilha, mas só será uma tortura se não nos permitirmos à doçura escolhida de lecionar.

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  8. É verdade, amigo; mas infelizmente não ainda temos condições dar o acolhimento necessário a tantas necessidades envolvidas.O jeito é fazer deles as pessoas que irão mudar a realidade e o futuro de nosso país desde cedo.

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  9. relatando acredito que posso fazer ainda sim nascer um sentimento de querer dar a largada para esta melhora, nada neste mundo é em vão e todos nós temos partilha de responsabilidade nisso.

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  10. Sábias palavras Maumau, sábias palavras, como sempre. Enquanto isso, vamos ecoando o erro da nossa voz.

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  11. Quando eu soltar a minha voz
    Por favor entenda
    Que palavra por palavra
    Eis aqui uma pessoa se entregando

    Coração na boca
    Peito aberto
    Vou sangrando
    São as lutas dessa nossa vida
    Que eu estou cantando

    (gonzaguinha)

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