A minha segunda observação na Escola Santa Bárbara
aconteceu na turma do 3° ano. A ula começou naturalmente com
a chamada, uma breve recapitulação da última aula, e logo foi proposta uma
atividade inicial de leitura musical não convencional utilizando elementos
sonoros do corpo. O gráfico da tarefa era o seguinte:
Era perceptível a dificuldade que tinham em
realizar a tarefa, e comecei a observar ainda mais fundo percebendo que não se
caracterizava uma atividade impossível ou muito avançada para a idade visto que
alguns poucos estudantes conseguiam executá-la. Realizei que provavelmente
havia dificuldade na leitura já que tinham que visualizar para executar. Para comprovar
a minha tese perguntei a um pequeno companheiro ao qual me aproximei no início
da aula ditando a sua tarefa de matemática da aula anterior: ‘’A atividade está
difícil?’’ e ele me respondeu: ``Sim..’’, eu retruquei: “ E o que é mais difícil
na atividade?”, ele: ‘’Ler os nomes...’’.
Percebendo o professor Maurício que os alunos
perderiam muito tempo até executar a atividade sem decorar, ele subtraiu do
quadro a língua e a mão, e finalmente conseguiram realizar a tarefa. Logo
adiante, ele adicionou o estalo de língua novamente.
A aula foi finalizada com a apreciação da
canção ``Bolacha de Água e Sal’’ seguida de perguntas sobre o contexto da
música. Embora parecessem estar atentos, muitos divagavam no decorrer da
atividade, talvez por não estarem acostumados com a apreciação já que nos seus
bairros são constantemente bombardeados com as músicas que saem dos bares ou da
casa do vizinho, ou seja, não existe um momento para sentar e escutar música. As
perguntas foram respondidas por poucos.
Seguimos para a sala do 2° ano e começamos a aula com a mesma canção seguida das questões sobre a letra, desta
vez acrescentando perguntas sobre os instrumentos e no segundo instante da
apreciação o professor pediu que estalassem o dedo no som mais forte da música
e logo substituíssem os dedos pelo estalo de língua, finalizando com uma
alternância entre os dois.
No segundo momento da aula o professor abriu um
espaço no centro da sala utilizando uma estratégia própria para ganhar tempo e
fizemos uma roda escutando a mesma canção onde participamos todos (inclusive
os colegas bolsistas), marcando um tempo com o estalo de língua e o outro
tempo com um passo andando no sentido horário.
As atividades transcorreram sem maiores
anormalidades, exceto pelo fato do professor ter pedido a um dos estudantes que
se retirasse da sala porque se recusava desde o principio a colaborar com a
aula.
Ao entrar na sala me chamou a atenção uma
criança diferente: moicano louro, bermuda abaixo da cintura, uma tatuagem na
mão, e me perguntei: Quem serão os seus pais? (se é que tem pais), ou como permitem que sustente aquela aparência? Soube mais tarde que essa criança já estava envolvida com a
vida na rua, entretanto enxeguei uma ponta de esperança pelo fato de estar ali,
na escola, participando das atividades ativamente como qualquer outra criança e
percebendo que grande responsabilidade temos nós professores no papel da
educação.
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