quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Reflexos.


Olá, colegas, parceiros dessa jornada!

Devo desculpas a vocês por não ter postado o relato-reflexão da semana anterior - motivos plausíveis que justifiquem esse deslize me faltam, admito; peço desculpas.

Anteontem, terça-feira, infelizmente não houve aula de música na escola Xavier Marques. O prof. Ednaldo nos mandou um e-mail há alguns dias, informando que usariam a sala de música para uma espécie de reunião. Assim sendo, aproveito para me redimir do texto que não postei aqui. Não relatarei a aula em si - algo que o nosso colega Alberto, companheiro meu das visitas, fez. Mas me debruçarei sobre uma pequeno fato sobre o qual tenho refletido desde a terça passada.

Temos comentado e relatado muito sobre indisciplina. Na aula que observei na semana passada, a indisciplina se mostrou preponderante na maior parte da aula. O prof. Ednaldo, contudo, teve alguns insights que foram importantes para prender a atenção dos alunos – como a atividade de relaxamento e a leitura rítmica a partir de quadrados em branco e pintados, como relatara Alberto em seu texto. Mas foi um aluno em particular quem me chamou atenção durante toda a primeira aula que assistimos naquele dia. Agora me falha a memória, não lembro exatamente sua idade – nem sei se soube -, mas imagino que tenha algo em torno de 7, 8 anos. Desde o início da aula, ele mostrara-se agitado. Pulava de uma cadeira para outra, mexia com fulano e sicrano. Foi advertido algumas vezes, mas a cada descuido do professor, continuava sua “tarefa”.
Percebi uma relação muito íntima dele com um de seus colegas. Este o acompanhava sempre, mesmo não participando de suas brincadeiras. Se um mudava de cadeira, o outro ia atrás. Se um dava risada, o outro também. Num momento, num canto da sala, enquanto o professor pedia que as meninas cantassem a música que estavam aprendendo, os dois puseram-se a se cutucar: um beliscava de lá, outro de cá; um fazia cócegas, o outro também; até que o garoto mais “traquina” de repente deu um tapa em seu amigo. O professor não viu. Eu preferi não me intrometer ainda. Continuei observando. O que recebeu o tapa levantou, foi para o canto oposto da sala, em que estávamos sentados eu e Alberto. Primeiro, sentou-se na ponta da fileira de cadeiras, longe de nós. Seu amigo o seguiu. Foi se aproximando de nós na intenção de se afastar daquele que lhe deferiu o golpe. Mas o outro foi insistente, continuava o seguindo. Até que, em pouco tempo, os dois estavam sentados ao nosso lado. Olhei bem para os dois e perguntei: “tudo bem com vocês”? Sorriram e balançaram a cabeça afirmativamente. Não demorou muito para que estivessem juntos de novo. Grudados. Unha e carne. Olhei novamente para eles: “vocês são irmãos?”. “Não”, me responderam, “somos amigos”. Soaram alegres. Pouco tempo depois, o segundo estava defendendo seu amigo numa outra pequena confusão em que tinha se metido. Argumentou com o professor que fora o outro colega, e não seu amigo, que tinha “começado”...
Ao fim da manhã, Alberto, Ednaldo e eu conversamos sobre as aulas. Relatei a ele o que eu vira, quis saber algo mais sobre os meninos. Ele me contou que o problema da indisciplina do primeiro – protagonista da situação que relatei – é antigo, que a mãe já foi chamada, inclusive, à escola para ficar a par dos acontecimentos, e que isso não ajudou muito, já que algumas atitudes da mãe evidenciaram o porquê de seu comportamento. Ednaldo falou também que o fato dele ter arranjado um amigo melhorou muito o seu comportamento – a partir daí ele começara a ficar mais calmo.

A relação entre os garotos, a indisciplina de um, as causas, conseqüências, as atitudes familiares, sociais, as que tomamos em relação a essas questões, e que por vezes delimitam os caminhos que se abrem a essas crianças, caminhos esses que aqui, enquanto nos propomos educadores, somos responsáveis por abrir, foram questões que me ficaram martelando a cabeça...

P.S.: Enquanto Alberto e eu nos encaminhávamos para o ponto de ônibus, veio de lá uma criança: “professor, professor!”. Nos abraçou. Era o garoto.

2 comentários:

  1. Pois é Luis, ser professor é fazer descobertas todos os dias.. rs. Não tem como educar sem contextualizar, não tem como interferir no desenvolvimento do educando sem saber suas origens. O reconfortante de tudo isso consta em seu relato final. É por isso que tudo vale a pena.

    Embora alguns casos, como vc teve oportunidade de ouvir o relato de ex-aluna, não são tão felizes quanto esperávamos.. mas temos que fazer nossa parte.

    P.S.- A razão de não haver aula na terça não foi por ter a sala de música (na escola) ocupada, mas pq fui convocado pelo sindicato (APLB) para comparecer em reunião realizada pelo mesmo no centro da cidade. Como sou, tb, representante da escola, junto ao sindicato, tive que me deslocar para lá. Por esta razão não houve aula. O que, em breve, espero não acontecer, quanto tivermos a oportunidade de fazermos o que aconteceu em sua primeira aula em nossa escola. quem sabe. rss. abç.

    ResponderExcluir
  2. Fala, Ednaldo! Desculpa pela confusão quanto ao motivo de não ter havido aula. Imaginei que o sindicato faria uma reunião na sala, me atrapalhei - o que é bem comum!rs
    Realmente ser professor é fazer descobertas. Tudo isso tem sido pra mim um grande desafio e tem me proporcionado grandes aprendizagens.
    Quanto a oportunidade de fazermos o que aconteceu na primeira aula, apesar disso ainda me deixar "preocupado", estamos aí!rs

    Grande abraço!

    ResponderExcluir